... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...


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Em associação com Casa Pyndahýba Editora

Ano I Número 2 - Fevereiro 2009

A Educação Pela Pedra - João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto (1920-1999) inicia sua produção poética aos dezessete anos, mas é em 1942 que publica Pedra do Sono, sua primeira obra, com poemas compostos entre 1940 e 1941. É seguida por Os trê Mal-Amados (1943), O Engenheiro (1942-1945), Psicologia da Composição (1946-1947), O Cão sem Plumas (1949-1950), O Rio (1953), Paisagens com Figuras (1954-1955), Morte e Vida Severina (1954-1955), Uma Faca só Lâmina (1955), Quaderna (1956-1959), Dois Parlamentos (1958-1960), A Educação pela Pedra (1962-1965), Museu de Tudo (1966-1974), A Escola das Facas (1975-1980), Auto do Frade (1984), Agrestes (1981-1985), Crime na Calle Relator (1985-1987), Sevilha Andando (1987-1993), Andando Sevilha (1987-1989).

O título da coletânea A Educação pela Pedra indica a metodologia poética de Cabral: um processo contínuo de educação, onde o poema deve ser trabalhado de dentro pra fora, numa forma rigorosa e sistemática para obter consistência e resistência, tal qual a pedra. Ali não cabem metáforas, só a simetria entre a estrutura da linguagem e da realidade representada.

A seguir, o poema que dá título ao livro.



A Educação pela Pedra

Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, freqüentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições de pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.

*
* *

Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra; lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.

Extraído do livro A Educação Pela Pedra (1962-1965)