... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...


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Em associação com Casa Pyndahýba Editora

Ano I Número 2 - Fevereiro 2009

Tradução - Eduardo Miranda

& Ciarán MacSamhráin*

Eu Sou o Eire

Pádraig Mac Piarais *

Eu sou o Eire*:
Mais velho que a Bruxa de Beare*.

Tamanha é minha glória:
Eu, que dei cria ao bravo Cão de Cullen*.

Tamanha é minha vergonha:
Meus irmãos venderam sua própria Mãe.

Tamanha é minha dor:
O eterno inimigo que nos atormenta sem parar.

Tamanha é minha tristeza:
Todos em que eu depositava minha fé morreram.

Eu sou o Eire:
Mais desolado que a Bruxa de Beare.

Mise Éire

Pádraig Mac Piarais

Mise Éire:
Sine mé ná an Chailleach Bhéara.

Mór mo ghlóir:
Mé do rug Cú Chulainn cródha.

Mór mo náire:
Mo chlann féin do dhíol a máthair.

Mór mo phian:
Bithnaimhde do mo shíorchiapadh.

Mór mo bhrón:
D'éag an dream inar chuireas dóchas.

Mise Éire:
Uaignighe mé ná an Chailleach Bhéara.

* Notas do tradutor:

Pádraig Mac Piarais – também conhecido como Patrick Pearse, poeta, escritor, nacionalista e ativista político entre outras atividades, foi um dos líderes do Éirí Amach na Cásca, ou Easter Rising – O Levante da Páscoa – na Irlanda de 1916, quando os voluntários se rebelaram contra a ocupação dos ingleses. Foi declarado "Presidente do Governo Provisiório" da então formada República da Irlanda. Depois, com a queda dos "rebeldes", Pearse foi executado, junto com seu irmão e outros 14 líderes "revolucionários".

Eire – O poema é sobre a Irlanda. Eire era o nome da Ilha onde hoje se define a República da Irlanda mais a Irlanda do Norte, sendo que esta pertence ao Reino Unido. Ao escrever Éire, o autor se refere a toda a ilha, sem a atual divisão política e religiosa imposta pelos ingleses.

Bruxa de Beare Béara refere-se à península de Beare. Cailleach literalmente significa “velha mulher”. É uma figura muito antiga na mitologia céltica (com “c” de Celtic. O “g” de Gaelic foi introduzido em algum momento da história, influenciado pelos galegos, quando os celtas expandiram-se até onde hoje é a Galícia), e na maioria das vezes representa uma bruxa sagrada, também criadora, e possivelmente uma divindade ancestral, de alguma forma endeusada. De acordo com o folclore irlandês, “ela existe desde a eternidade do mundo”, e é a mãe dos Fomóraig (raça semi-divina que habitou o Eire na era pré-céltica, seres anteriores aos deuses, similares aos Titãs gregos). Uma curiosidade quanto à grafia: por vezes pode-se ler Chailleach e Bhéara ao invés de Cailleach e Béara. O “h” nos substantivos Chailleach e Bhéara dá-se por causa do artigo definido “an” (a) que antecede os substantivos – composto, no caso – que segundo a gramática irlandesa, são necessário para “suavizar” a pronúncia.

Cão de Cullen Cú Chulainn é provavelmente o mais famoso personagem do folclore irlandês. Em irlandês, significa cão de caça e Culainn é um nome próprio. Este personagem originalmente se chamava Sétanta, mas passou a ser conhecido como Cú Chulainn depois de ter matado o feroz cão de caça de Culann em legítima defesa, e se oferecido para tomar seu lugar até que outro fosse encontrado. Acabou por se tornar o mais famoso personagem dos Red Branch – um grupo legendário de soldados na Irlanda do Norte. Ele aparece em várias passagems do Táin Bó Cúailnge (pronuncia-se TAUN BOUL CUULNIA), uma história legendária da antiga literatura irlandesa, considerado um épico, comparado à Ilíada ou à Odisséia.

Um agradecimento especial para Ciarán MacSamhráin pelo patrimônio folclórico e cultural, sem os quais não seria possível uma tradução digna.